Com o propósito de valorizar a memória, a história e os costumes de etnias indígenas da região Oeste de Santa Catarina, o Núcleo para Educação das Relações Afro-Brasileira e Indígena (NERABI) da UCEFF Chapecó criou o Projeto Tramas. Em sua primeira atividade, a iniciativa recebeu uma visita de kaingangs da Aldeia Condá, de Chapecó, para compartilhar e receber diferentes conhecimentos.
A Oficina de Cestaria Indígena reuniu acadêmicos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Agronomia, no qual puderam explorar as técnicas e materiais utilizados na manufatura dos objetos tradicionais. Como contrapartida, a coordenadora de Arquitetura e integrante do Núcleo, professora Adriana Baldissera, conduziu uma conversa sobre design aplicado ao artesanato com a intenção de apresentar novas maneiras de incorporar técnicas e matérias-primas nos produtos indígenas.
Para o gerente em Assuntos Indígenas da Prefeitura de Chapecó, Júlio Cesar Inácio, o caráter contínuo do Tramas é o que o torna um projeto consistente. Diferentemente de outras iniciativas, focadas em ações específicas, a proposta do Núcleo é contribuir através de práticas regulares, seja com oficinas, encontros, palestras e intervenções.
Segundo a coordenadora do NERABI, professora Magdalena Lajus Travi, justamente com esse esforço, de criar um projeto “macro” e não pontual, que o Tramas tem sido planejado. “Nosso intuito é oportunizar trocas significativas tanto aos grupos indígenas quanto ao corpo acadêmico. A interculturalidade transita pelos saberes e pelos modos de fazer e o resultado dos encontros incorpora não somente bagagens a quem participa, como amplia nosso olhar sobre a riqueza das diferenças”, afirma Magdalena.
No caso dos kaingangs, o artesanato hoje é a principal base econômica, como comenta Julio. Por essa razão, é preciso garantir que a prática tenha sustentabilidade, pois do contrário, ela passa a estar suscetível ao desaparecimento. Ademais, outra preocupação é com a salvaguarda dos conhecimentos relacionados à tradição, que podem ser reinterpretados ou valorizados através da introdução de novos materiais, acabamentos e formatos.
“Acreditamos que ao compartilhar conhecimentos do Design, por exemplo, podemos colaborar e até direcionar o trabalho de artesanato, alinhando técnicas inovadoras ao produto final, tornando-o uma peça decorativa e até obra de arte criada pelos próprios indígenas”, salienta Adriana. A professora ressalta que a proposta não é descaracterizar o artesanato indígena, mas oportunizar condições de enaltecer elementos tipicamente culturais aos artefatos que nem sempre recebem devido reconhecimento.
De acordo com Julio, o Projeto Tramas abre precedentes para a participação dos jovens nas aldeias. Atualmente, um dos enfrentamentos nos grupos indígenas é o distanciamento de adolescentes com os assuntos das aldeias. “A conversação da academia com os grupos étnicos demonstra aos mais novos que existem outras formas de compreender a cultura de origem, levando em conta o contexto plural em que eles estão inseridos hoje”, completa o gerente em Assuntos Indígenas.