Era 2011 quando um de seus quatro filhos fez um pedido comum a uma criança com 13 anos. Ele queria entrar uma escolinha de futebol. Dona Maria Leite, moradora do Distrito de Marechal Bormann, não titubeou em dizer sim, mas havia um problema: os únicos lugares disponíveis eram nos bairros Santo Antônio e Universitário. E conciliar escola durante o dia com atividades esportivas à noite não seria uma possibilidade à época, seja por acompanhar o pequeno e até mesmo custear as passagens do transporte.
Mas a história não parou aí, Maria teve a ideia de criar a própria escolinha de futebol. Tanto pensou, que fez. Reuniu 20 crianças da comunidade, buscou parceria com voluntários, de professor de Educação Física ao campo, e hoje acolhe 113 crianças do Bormann e comunidades rurais no projeto que leva o seu nome. Dar conta de cuidar de todas as crianças não é fácil, mas Maria é acompanhada de boas pessoas.
Voluntário do projeto, o coordenador do curso de Medicina Veterinária da UCEFF Chapecó, professor Sandro Charopen Machado, comenta que tanto ele quanto as crianças atendidas pela iniciativa de dona Maria se divertem. Hoje ele dá aulas de futebol para os meninos e é recebido todas as quintas-feiras com muita alegria. “Fazer parte do projeto me traz um sentimento de gratidão e certeza da nossa função como cidadãos. Sempre tive muita vontade em colaborar com trabalhos voluntários voltados ao esporte, justamente por me interessar por práticas desportivas”, ressalta Sandro.
Onde quer que ela esteja, é Maria prá cá, Maria pra lá… A todo momento as crianças rodeiam a senhora de 53 anos, para chamar sua atenção ou compartilhar experiências. Mas isso não a incomoda de jeito nenhum, pois para ela, todos os meninos são especiais. E ela confessa, o que lhe enche de orgulho é ouvir os professores elogiarem o comportamento dos pequenos. “A gente nota que eles cresceram como humanos. Muitos professores dizem que depois do projeto eles melhoraram muito na sala de aula, eles se envolvem mais com os trabalhos”, comenta com um sorriso sutil, mas carinhoso.
E para levar outros conhecimentos aos jovens, o Núcleo de Direitos Humanos da UCEFF Chapecó, parceiro do projeto, os convidou para uma visita aos laboratórios do Centro Politécnico. Além de verem de perto como funciona uma instituição de Ensino Superior, eles participaram de uma sessão de filme organizada pelo Grupo de Apoio de Prevenção à Aids (GAPA) de Chapecó. “O ambiente acadêmico é tão rico em termos de espaços, experiências e conhecimentos, que decidimos aproximar os jovens através dessa vivência”, comenta a coordenadora do núcleo, a professora Juliana Benetti.
“É preciso ter força, raça e gana sempre” diz a música de Milton Nascimento, que poderia ser a trilha sonora da vida de Maria. A funcionária pública, trabalha como agente de saúde durante o dia e à noite vai ao campo acompanhar os pequenos jogadores. Detalhe: ela faz essa rotina de segunda a sábado. Quem acha que isso a cansa, está enganado. No domingo, outra turma pratica o esporte no salão comunitário, com a presença de Maria, claro, que realiza o projeto com carinho fraternal. E assim ela segue, sempre contente por cada conquista coletiva dos seus pupilos sem pensar em “pendurar” as chuteiras tão cedo.